Adenda à Grécia: mais um argumento a evitar

No post anterior omiti um argumento importante, porque a entrada já ia longa e não quis acrescentar ruído ao post. Mas depois de ler algumas das reacções ao post julgo que faz sentido fazer a adenda e abordar a ideia do “viver acima das possibilidades”.

Antes de entrar no detalhe do argumento, convém fazer uma curta revisão dos conceitos:

  • PIB real: o conjunto de bens e serviços produzido pela economia grega. Na prática, o PIB é a a totalidade de recursos que a Grécia consegue produzir, e que podem ser usados para consumo, para investimento e, obviamente, para amortizar dívidas.
  • Procura Interna: o somatório do consumo privado, do consumo público e do investimento. A procura interna é uma medida dos gastos da economia. Quando a procura interna é superior ao PIB, a economia gasta mais do que produz e precisa de se endividar lá fora para cobrir a diferença1.

Quem olhasse para a Grécia entre 2000 e 2009 ia ver algo deste género: a procura interna era sistematicamente superior ao PIB. Em certo sentido, a Grécia tinha mesmo vivido acima das suas possibilidades; mas, por alguma razão insondável, esse facto só foi reconhecido tardiamente.

Não havendo ninguém disponível para continuar a financiar a diferença entre produção e despesa interna, a Grécia teria forçosamente de baixar o seu padrão de vida. Quanto? Cerca de 13% – precisamente o excesso de procura face ao PIB. E O que a Grécia fez de seguida foi precisamente isso. A partir de 2010, a sua procura interna cai a pique e, em 2014, está mais ou menos alinhada com o PIB. Missão concluída.

Sem Título

Perante um pedido de mais dinheiro por parte da Grécia, a reacção de muita gente é olhar para a imagem de cima e imaginar que o que os gregos estão a tentar fazer é regressar ao regaço confortável da solidariedade europeia. Apertaram o cinto, a situação amainou e agora querem voltar a viver acima das possibilidades.

Mas há uma forma diferente de perceber o que se está a passar e qual é a raiz do problema. Em baixo mostro os mesmos indicadores da primeira imagem, mas colocados no seu valor real (milhões de euros, a preços de 2010), e não como a divisão de um pelo outro.

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A primeira linha vertical mostra aquilo que se tinha visto no primeiro gráfico: em 2009, a procura interna era 13% mais alta do que o PIB. Mas de 2009 a 2014 a procura interna grega não caiu apenas 13% – caiu uns estrondosos 29%. Como é que depois de tudo isto a Procura Interna está apenas “alinhada” com o PIB? Esperar-se-ia que fosse agora muito maior do que o Produto.

A resposta está na linha do PIB, a laranja: apesar de a Procura ter caído muito, o PIB seguiu-lhe o passo. Porquê? Porque uma boa parte da procura destruída dirigia-se à produção interna. Se houvesse uma forma simples de cancelar apenas a procura dirigida a bens produzidos “lá fora”, o ajustamento seria imediato e sem custos. Não havendo, a redução da despesa interna arrasou uma fracção da economia grega – acabando, portanto, por perder parte da sua eficácia enquanto mecanismo de ajustamento.

Neste sentido, os gregos não vivem hoje “em linha” com as suas possibilidades, ao contrário do que é sugerido pelo primeiro gráfico. Vivem muito abaixo das suas possibilidades. Se o seu PIB estivesse ao nível de 2008, poderiam ter uma procura interna mais alta do que a actual em 30 mil milhões de euros e ainda lhes sobrava outro tanto para amortizar as dívidas ao exterior. Mas uma parte desse PIB perdeu-se pelo caminho.

Por que é que pessoas inteligentes têm tanta dificuldade em perceber isto? Julgo que resulta da incapacidade de perceber a diferença entre a macro e a microeconomia (a falácia da economia familiar). Quem vê o PIB como um salário e o Estado como um trabalhador individual tende a pensar que é possível “viver dentro das possibilidades” sem reduzir concomitantemente essa fronteira de possibilidades. Afinal de contas, um trabalhador que decida poupar não passa a ganhar menos por causa disso – as suas possibilidades podem variar (aumentos, cortes salariais), mas são independentes das suas decisões de consumo. Se o rendimento é fixo e constante, pedir um empréstimo quando já se gasta todo o salário só pode, obviamente, significar um desejo de viver acima das possibilidades.

Mas a generalidade das propostas apresentadas como “solução” para a economia grega não têm como objectivo elevar novamente a procura interna acima do PIB. Pelo contrário, têm como objectivo elevar o próprio PIB. No final, a Procura Interna será maior mas o rácio Procura Interna/PIB até poderá ser menor.

Que propostas são estas? Nalguns casos, como acontece com a sugestão de um plano de estímulo económico levado a cabo pelos países do core, as medidas estão propositadamente desenhadas para aumentarem exclusivamente o PIB grego, deixando a Procura Interna inalterada. Noutros, como a proposta de flexibilizar metas orçamentais, é ponto assente que as dívidas já contraídas serão pagas e que a Europa não terá de assumir quaisquer perdas adicionais com a Grécia. A ideia de fundo, em qualquer dos casos, é simples: com um output gap tão grande, há uma enorme margem de manobra para fazer crescer o bolo total dos recursos de que os gregos dispõem.

Dito isto, e uma vez que os meus posts geram com frequência alguns problemas de interpretação (sobretudo na parte das suas implicações), deixo uma pequena FAQ.

***

P: É possível que a contracção da Procura Interna acabe por aumentar o peso da Procura Interna no PIB?

R: Não. Com toda a certeza o efeito é positivo. Na consolidação orçamental, pelo menos, é o que acontece; é sempre frustrante repetir algo tão óbvio, mas a vantagem da internet é que em vez de se recapitular tudo pode-se simplesmente fazer links: 1, 2, 3. O efeito pode é ser muito menor do que muita gente pensa. Mas estamos a falar da magnitude de um efeito, e não do seu sentido.

P: É possível facilitar o crescimento do PIB grego sem custos para o resto da Europa?

R: Claro. Basta flexibilizar as metas orçamentais um pouco. Algumas contas de costas-de-envelope sugerem que o impacto dessa flexibilização no crescimento do PIB pode ser grande, persistente e não ter grandes efeito no montante de dívida.

P: Não é então óbvio que isso devia ser feito?

R: Essa pergunta é mais complicada. Em primeiro lugar, porque a flexibilização assume sempre que a margem de manobra dada momentaneamente à Grécia não é utilizada de forma indevida para colocar em causa a sustentabilidade da dívida. Em segundo lugar, porque uma flexibilização de metas para a Grécia implicaria provavelmente idêntica flexibilização para o resto dos países europeus – o que, não sendo má ideia em termos puramente económicos, representaria uma derrota política que os alemães desejam evitar.

P: Mas, havendo vontade, não seria fácil chegar a uma espécie de compromisso?

R: Fácil não é de certeza. As soluções de compromisso pressupõem, antes de mais, flexibilidade e confiança mútua. Mas os dois agentes principais deste jogo – Grécia e Alemanha – têm uma história recente que não facilita entendimentos desse género. O facto de o Syriza ter sido eleito sob a bandeira do fim da austeridade só reforça, nos alemães, a ideia de que a consolidação não é para fazer. E não é fácil imaginar que tipo de garantias poderia o Syriza sequer pensar em apresentar. A credibilidade é (quase) como a virgindade: depois de perdida…

P: Qual foi então a ideia do post anterior?

R: A ideia é que, apesar de não haver resposta fácil para estes dilemas, há preconceitos muito errados que também não ajudam a resolvê-los.

1 Isto é uma simplificação grosseira. Na prática, estou a ignorar fluxos de rendimentos, transferências corrente, transferências de capital e uma série de outros pormenores. Mas, no geral, utilizar conceitos mais apropriados, como o Rendimento Nacional Bruto em vez do PIB, não alteraria as conclusões (só aumentaria a confusão).  

10 comments on “Adenda à Grécia: mais um argumento a evitar

  1. Carlos diz:

    “Não havendo ninguém disponível para continuar a financiar a diferença entre produção e despesa interna, a Grécia teria forçosamente de baixar o seu padrão de vida. Quanto? Cerca de 13% – precisamente o excesso de procura face ao PIB. E O que a Grécia fez de seguida foi precisamente isso. A partir de 2010, a sua procura interna cai a pique e, em 2014, está mais ou menos alinhada com o PIB. Missão concluída.”

    Estará? Esse alinhamento apenas significa que, desde 2010, se susteve, grosso modo, a acumulação de divida. Mas como no periodo anterior, prolongado, se acumularam deficts o stock total de diferença é muito mais que os 13%, não é?

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  2. Carlos Guimarães Pinto diz:

    Parece-me que há algo muito importante que é sempre menosprezado nestas análises: a distorção na alocação de recursos. Ter uma procura interna constantemente acima do produto interno faz com que demasiados recursos da economia se dirijam à procura interna. Quando a economia deixa de ter financiamento externo, a procura interna cai, fazendo cair também o produto na medida em que os factores de produção previamente alocados a satisfazer a procura interna deixam de ter emprego. Isso fará com que a procura interna caia mais um pouco, o que por sua vez baixará ainda mais o produto. A verdade é que para se corrigir um desequilíbrio de 13% é bem possível que o PIB tenha que cair bastante mais.

    Recuperar desta situação não se faz aumentando novamente a procura interna. Embora possa ajudar no curto prazo, só adiará a solução final que é: reajustar o perfil dos factores produtivos para que uma maior proporção se aloque à procura externa (ou seja, ao sector exportador). Claro que tudo isto é lento porque os factores de produção não se transformam de um dia para o outro. Seria bem mais rápido simplesmente voltar ao endividamento externo para estimular a procura interna, mas isso não resolveria o problema de raiz.

    Infelizmente, o facto de a Grécia estar no Euro fez com que a distorção atingisse o nível que atingiu. Com moeda própria, a situação ter-se-ia corrigido faseadamente já que dívidas externas tendem a gerar desvalorização que por sua vez incentiva a alocação de recursos ao sector exportador.

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    • Carlos Duarte diz:

      Ou então, e no seguimento do que escreveu Victor Bento, o programa de resgate (ou mesmo normas europeias) deveriam conter regras que equilibrassem balanças comerciais dentro da zona Euro, i.e, não era emprestar dinheiro à Grécia, era investir ou comprar coisas à Grécia por parte dos países com folga orçamental.

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    • Carlos,

      “Recuperar desta situação não se faz aumentando novamente a procura interna. Embora possa ajudar no curto prazo, só adiará a solução final que é: reajustar o perfil dos factores produtivos para que uma maior proporção se aloque à procura externa”.

      Estás a) a partir do princípio de que a proporção de recursos que tem de ser alocada à procura externa é maior do que a actual; e b) a assumir que não há outra forma de promover essa transferência de recursos. A primeira ideia é discutível, e a segunda é falsa.

      a) Se admitirmos que o objectivo a atingir é estabilizar a dívida externa grega, então essa estabilização já está garantida na actual situação. Imagina que a procura interna cresce 20% e se dirige exclusivamente à produção interna grega – o que é que acontece à trajectória da dívida externa? Nada: continua igual. A única diferença face ao cenário actual é que a economia passa a ter um PIB 20% superior.

      Admito que o objectivo macroeconómico seja mais ambicioso. Eventualmente, pode ser desejável reduzir gradualmente a dívida externa (e não apenas estabilizá-la) num determinado período. E quanto mais ambicioso for o objectivo, mais desemprego terá de haver na economia grega para garantir essa transferência de recursos. Nesse caso, a procura interna não pode crescer os tais 20%.

      Mas então qual é exactamente a meta a atingir? E qual é o deadline que se quer cumprir? É que se o objectivo for reduzir a dívida externa em 20 ou 30% do PIB em 10 anos, então a situação actual continua a ser um desperdício enorme, porque essa meta podia ser perfeitamente atingível sem o desemprego corrente (12% em vez de 25% eram mais do que suficientes).

      A indefinição desta meta macroeconómica torna o argumento da “realocação de recursos” completamente tautológico. É óbvio que o desemprego actual conduz a uma realocação de recursos – a questão é que essa realocação de recursos pode ser excessiva relativamente ao objectivo. E se for excessiva, então todo o desemprego acima do que seria necessário para operar essa realocação é um desperdício.

      (No limite, até podemos querer converter uma dívida externa de 100% numa situação líquida positiva nos mesmos 100% em apenas 30 anos. Nesse caso, provavelmente até temos de estar dispostos a tolerar um desemprego de 50%; mas qual é exactamente a racionalidade por detrás desta meta? E, contudo, não tenho dúvidas de que se o desemprego estivesse nesse ponto não faltaria quem invocasse a necessidade de “realocar recursos”. Por ser tautológico, este argumento funciona para qualquer nível de desemprego.)

      b) Finalmente, qualquer meta para as contas externas, por mais irrealista ou indesejável que seja, pode ser atingida por duas maneiras: para além do desemprego e desvalorização dos países deficitários, uma expansão ou revalorização dos países excedentários. O resultado final é exactamente o mesmo. A única diferença é que o processo para lá chegar é muito menos doloroso no primeiro caso.

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      • Carlos Guimarães Pinto diz:

        “Estás a) a partir do princípio de que a proporção de recursos que tem de ser alocada à procura externa é maior do que a actual;”

        Não. O actual perfil produtivo já corresponde ao perfil da procura, daí o equilíbrio na balança de bens e serviços. O que digo é que estimular a procura interna, o que aumentaria as importações mas não faria nada pelo sector exportador, voltaria a desequilibrar a balança.

        “Imagina que a procura interna cresce 20% e se dirige exclusivamente à produção interna grega – o que é que acontece à trajectória da dívida externa? Nada: continua igual.”

        Pois, mas como está implícito no teu post não é possível dirigir a procura interna apenas à produção grega. Mesmo que, muito difícil, isso fosse atingido com os gastos directos, o aumento de rendimento dos agentes de produção interna, faria aumentar as importações sem qualquer efeito nas exportações.

        Como é que, então, se pode reempregar os recursos subaproveitados de forma sustentável?

        Reempregando-os no tecido produtivo com uma alocação semelhante ao perfil da procura. Por exemplo, se o perfil da procura Grega for 80% produção interna e 20% importações, então os factores de produção da economia teriam que ser empregados de forma simétrica: 80% para o consumo interno e 20% para exportações. O actual tecido empregado já terá essa alocação, atingido em grande parte pelo desemprego de factores alocados à produção para consumo interno, mas também pelo aumento de factores alocados à exportação. Para que o país cresça de forma sustentável é preciso que só voltem a ser reempregados 4 recursos na produção interna quando 1 recurso for empregado às exportações. Acho que o caso português aqui pode ser tomado como exemplo: o consumo interno voltou a aumentar em 2014 depois de se ter atingido um pequeno superavite da balança de bens e serviços em 2013.

        Como é que podem ser aumentados os recursos produtivos alocados à exportação?

        Tu dizes que é possível fazê-lo estimulando a economia dos principais parceiros comerciais da Grécia, como a Alemanha. De acordo (acho que também é esta a opinião de Vítor Bento e eu não neguei esta possibilidade no meu comentário anterior). A Grécia, em princípio, beneficiaria na proporção da sua quota de mercado no consumo alemão. Mas, na ausência desse estímulo, há uma outra alternativa: ganhar quota de mercado. Ou seja, tornar a economia grega mais competitiva para que possa ganhar quota de mercado nos seus mercados de exportação e assim aumentar a proporção do seu tecido produtivo alocado ao sector exportador. Com moeda própria, isto fazia-se com ajuda da devalorização cambial. Sem moeda própria, faz-se recorrendo a desvalorização interna e a reformas, ou seja, cumprindo o programa de austeridade

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      • “Com moeda própria, isto fazia-se com ajuda da devalorização cambial. Sem moeda própria, faz-se recorrendo a desvalorização interna ”

        Tanto a desvalorização cambial como a desvalorização interna farão aumentar o valor real da dívida grega – ou seja, ao resolver um dos lados do problema, agravam o outro.

        [Há tempos estive para escrever um post argumentado que a austeridade e a reestruturação da dívida não são – como costumam ser apresentados no combate politico – alternativas, são provavelmente complementares: a austeridade provavelmente implica alguma espécie de reestruturação, para compensar o aumento real da dívida provocado pela deflação; e uma reestruturação também precisa de austeridade, já que só com um superavit primário confortável um pais consegue transmitir uma ameaça credível de “se não aceitam uma renogociação, não pago é nada!”]

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      • “Não. O actual perfil produtivo já corresponde ao perfil da procura, daí o equilíbrio na balança de bens e serviços”.

        Essa é a tautologia que eu aponto. Claro que, por definição, o actual perfil produtivo já corresponde ao perfil da procura. A questão é que a actual situação de procura não está escrita na pedra. E o que interessa é perceber quais são as consequências de uma procura interna maior.

        “Pois, mas como está implícito no teu post não é possível dirigir a procura interna apenas à produção grega”.

        O exemplo em que a procura interna cresce 20% e é integralmente direccionada para produção interna é um exemplo propositadamente radical para clarificar o ponto. Mas se o tornarmos mais realista a conclusão mantém-se.

        Num cenário mais realista, é preciso levar em conta que a) a procura externa está a crescer, e só esse crescimento permite acomodar um crescimento semelhante da procura interna sem degradar a balança comercial; b) o output gap gera aumentos de competitividade, o que estimula o sector exportador e reduz a elasticidade importações/procura interna.

        Juntando tudo isto num modelo, chega-se facilmente à conclusão de que é possível aumentar bastante a procura interna no imediato e ainda assim atingir uma redução significativa da dívida externa num período temporal razoável. Não se reduz tanto quanto se reduziria se a procura interna fosse mais baixa, mas reduz-se.

        Por isso, volto a fazer a pergunta: qual é exactamente a meta de redução da dívida externa que se tem em mente? Sem responder previamente a essa pergunta, é impossível dizer se a procura interna deve aumentar ou não. O “saldo comercial equilibrado” não é um bom critério, porque um saldo comercial equilibrado (à semelhança de um saldo orçamental primário equilibrado) tanto pode servir para estabilizar a dívida como pode ser insuficiente para o fazer – tudo depende do comportamento das outras variáveis.

        “A Grécia, em princípio, beneficiaria na proporção da sua quota de mercado no consumo alemão. Mas, na ausência desse estímulo, há uma outra alternativa: ganhar quota de mercado.”

        Concordamos. Presumo que concordemos também na ideia de que a primeira opção é a menos custosa para toda a gente.

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  3. […] bem percebo, neste post, o Pedro Romano diz que existe um ponto de equilíbrio macroeconómico na Grécia de PIB/consumo maiores, sem […]

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  4. Carlos Duarte diz:

    “Sem moeda própria, faz-se recorrendo a desvalorização interna e a reformas, ou seja, cumprindo o programa de austeridade”

    Uma coisa é o programa de reformas (especialmente em termos laborais), outra coisa são medidas de austeridade para o Estado. E se o primeiro é mais que necessário para tornar a economia mais competitiva, já o segundo é irrelevante (no caso grego) para a economia privada.

    A principal consequência de um Estado com gastos elevados (gastos, não tamanho – ao contrário do que muitas vezes se apresenta, lá por um Estado ser mais pequeno não quer dizer que seja menos gastador) é a necessidade de compensar esses gastos por via fiscal. O que tem impacto na actividade económica em termos de custos de contexto. No caso grego o problema é OUTRO, os níveis de fraude e evasão fiscal. O programa de austeridade, como planeado, é provável que AGRAVE a falta de competitividade da Grécia (salvo se feito de forma neutra – os impostos reduzirem de forma automática em função da receita fiscal o que, aliás, Portugal está a tentar fazer de forma classicamente atabalhoada).

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