Em 1988, Philip Tetlock lançou um desafio inusitado a analistas, pundits e simples curiosos: passar os 15 anos seguintes a fazer previsões acerca de questões da actualidade.
Foi preciso aguardar um bocadinho para se conhecer o resultado da experiência, mas a espera valeu a pena. Quando ‘abriu a caixa negra’, e contrastou as previsões com a realidade, Tetlock descobriu que «em média, a capacidade destes especialistas para preverem o futuro próximo nas matérias que dominam é semelhante à de um chimpanzé a atirar dardos a um alvo».
Não sei se o estudo envolveu algum português, mas se não envolveu devia. Todos os dias ouvimos gente na TV ou nos jornais a fazer as mais variadas previsões. Antecipam tendências de mercado, antecipam o valor do défice e “explicam” o que vai acontecer se o Governo fizer isto ou aquilo.
Mas será que as previsões se confirmam? Não faço ideia. A comunicação social pede palpites para aqueles “Especiais de 31 de Dezembro”, mas depois nunca contrasta a previsão com a realidade. E há um bocadinho de auto-crítica à mistura. De certeza que se usarem a barra de ‘search’ lá em cima vão encontrar alguma futurologia neste blogue. Até que ponto é que acerto? Sei lá – nunca me dei ao trabalho de confirmar.
A experiência de Tetlock deu-me uma ideia: por que não registar as minhas próprias previsões para os próximos anos, fechar tudo num cofre e abrir daqui a algum tempo? É uma óptima forma de perceber até que ponto sou afectado por alguns, digamos assim, self-serving bias. Bom, na verdade há um problema: dá trabalho. Não basta pensar em questões relevantes; é preciso formulá-las de maneira simples e de forma a que a respectivas respostas possam ser avaliadas sem ambiguidade. Mas, não podendo eliminar estes custos fixos, posso pelo menos dilui-los em vários inquéritos. Isto reduz drasticamente o custo médio da coisa.
E assim surge o ‘concurso’ Previsões Económicas 2017 e 2018. As regras do jogo são simples:
- No total há dois inquéritos. Um é relativo a 2017, e tem 25 perguntas. O outro refere-se a 2018, e tem metade das questões. Ambos versam sobre economia. As respostas são de escolha múltipla, com apenas uma excepção – há direito a uma ‘previsão livre no final de cada questionário. Podem participar nos dois ou apenas num. (Dica: quem gosta de cenários apocalípticos pode preferir ‘saltar’ para 2018).
- Cada resposta certa vale um ponto, cada resposta errada vale meio ponto negativo. “Não sei” corresponde a zero pontos. (Nota: clarificação acrescentada às 13h50 de 18/12, para esclarecer valorização relativa de cada resposta).
- Qualquer pessoa pode participar. O inquérito pede um e-mail, o nome e a orientação política, mas na verdade só o primeiro é essencial. A questão política está lá por questões estatísticas – dá-me jeito para tratar o resultados. A razão para o nome é mais prosaica: haverá um vencedor, e preciso de um nome para o identificar. Mas a identificação pública de cada pessoa só será feita a pedido da própria. Ou seja, as respostas são confidenciais.
- Os inquéritos estão abertos a partir de agora, e ‘fecham’ a 31 de Dezembro. Os primeiros resultados são publicados em 2018, mas até lá vou divulgando conclusões preliminares sempre que achar dados interessantes. Os participantes receberão um e-mail com a sua classificação relativa. A classificação geral não será pública, com a excepção dos participantes que forneçam indicação em sentido contrário.
Quem tiver chegado até aqui e perseverar até ao passo seguinte pode acabar por se perguntar: como é suposto eu saber se vai haver um crash bolsista até 2018? Em que me devo basear para prever um episódio de hiperinflação? E não é verdade que há prémios Nobel a dizer que é impossível bater o mercado nesta tipo de apostas?
Percebo e acompanho algumas dessas perguntas. Mas essa é a beleza da coisa. É que apesar de ser difícil antecipar eventos desta natureza, eles são regularmente previstos com certeza absoluta – ou descartados com idêntica segurança – por muita gente. A futurologia que vejo nos media não reflecte a incerteza intrínseca a este tipo de questões, mas uma brincadeira deste género permite perceber se estas certezas são um sobproduto das pressões mediáticas, ou se aquilo que é nebuloso para os comuns mortais pode mesmo ser verdade revelada para uns poucos videntes. E haverá, claro, explicações alternativas menos reconfortantes.
O período de crispação que se vive em Portugal é particularmente apropriado para uma iniciativa deste tipo. O que é que os impostos fazem à economia? O PIB vai acelerar no próximo ano? O que vai acontecer ao Índice de Gini? Há uns anos, a maioria das pessoas responderia a isto da mesma que a uma pergunta sobre física quântica: sei lá (“e já agora, o que é isso do GINI?”). Penso que hoje é muito mais provável as mesmas perguntas gerarem respostas firmes e comprometidas.
Finalmente, como participar? Esta é fácil: basta clicar aqui para responder às perguntas de 2017 e às perguntas de 2018. Dúvidas e questões em relação à formulação das questões podem ser tiradas através deste documento ou, alternativamente, via e-mail (há um contacto no canto superior direito). O período de respostas fecha a 31 de Dezembro.
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