Sugestão de Leituras

#35. Por que falham as Nações (Círculo de Leitores, 2013) – Daron Acemoglu & James Robinson

Por que falham as nações é talvez a pergunta mais antiga de toda a ciência económica. A obra de fôlego (560 páginas) de Acemoglu e Robinson sintetiza a  investigação que os dois têm vindo a fazer há mais de uma década. A explicação, defendem, são as instituições que regulam a vida política, económica e social de cada país – instituições inclusivas permitem que os agentes económicos colham os frutos do seu trabalho; instituições extrativas concentram o poder em elites predatórias, o que extingue os incentivos para investir e crescer. O livro, que ascendeu ao estatuto de obra prima segundo muitos críticos, é extremamente rico: analisa dezenas de sociedades e explica de que forma é que as suas “regras” determinaram, a prazo, o seu sucesso enquanto país. Mas a abordagem narrativa do desenvolvimento económico sempre me fez torcer o nariz – como raio sabemos que o Direito à Petição obrigou mesmo as elites inglesas a ouvir as classes mais desfavorecidas? Sem alguma evidência mais sólida do que apenas a suposição de que isso poderia ter acontecido, a maior parte das hipóteses ‘institucionalistas’ não passam de just so stories. Bem sei que Acemoglu estudam isto há muito tempo e têm alguma estatística a confirmar o que dizem; mas o facto de não a apresentarem no livro não é propriamente um ponto a favor.

#34. O Cisne Negro (Dom Quixote, 2011) – Nassim Nicholas Taleb

Na verdade, o livro de Taleb tem muito pouco de economia, e só entra nesta lista porque a generalidade das editoras insistiu em emprateleirá-lo nessa secção. A tese central do autor é que sabemos muito menos do que gostamos de pensar que sabemos. Grande parte dos fenómenos que presenciamos são caóticos, complexos e imprevisíveis – desde revoluções políticas até fenómenos sociais, passando pelo comportamento da bolsa. a ideia de que é possivel prevê-los ou controlá-los é apenas uma ilusão de ótica criada pela nossa mente, pouco talhada para pensar em termos estatísticos. O mundo está assim povoado de vendedores de banha da cobra, que afirmam dominar fenómenos que, segundo Taleb, estão pura e simplesmente fora do nosso domínio. O livro tem ideias interessantes, que poderiam ser mais bem explicadas e exploradas, em vez de simplesmente marteladas ad nauseum (e com quase 500 páginas, a desculpa da falta de espaço não cola). Mas o pior é o estilo – uma prosa de tal forma auto-elogiosa que é possível passar à frente parágrafos e parágrafos sem que se perca o sumo.

#33. Desta vez é diferente (Actual Editora, 2013) – Carmen Reinhart & Kenneth Rogoff

O muito elogiado livro de Rogoff e Reinhart (R-R) é uma obra monumental sobre crises financeiras e bancárias. Os autores partem de uma nova base de dados que compila dados para um período superior a 800 anos e fazem uma anatomia das crises ao longo da história. As crises, segundo R-R, seguem sempre o mesmo padrão: o aumento da confiança nos agentes económicos, a criação de uma bolha (euforia) e a crença – quase sempre pueril – de que a nova economia transcendeu as limitações de épocas passadas. Agora, conseguimos avaliar o preço dos activos, domar o risco e controlar as perdas. Desta vez é diferente. Normalmente, não é, e a história repete-se: crashes gigantescos e colapsos financeiros em cadeia. Uma excelente obra, sem dúvida.

#32. Espíritos Animais (Smartbook, 2010) – George Akerlof e Robert Schiller

Espíritos animais é uma introdução ao mundo da economia comportamental. Ao longo de vários capítulos, os autores explicam como é que a economia tradicional explicou os ciclos económicos, desemprego, bolhas especulativas e conflitos laborais, com recurso aos malfadados ‘modelos económicos’ e à ideia do homo economicus, maximizador do seu bem-estar. De seguida, abre-se a porta ao admirável mundo novo da economia comportamental, que se apoia em experiências de campo para tentar perceber como é que os seres humanos de facto tomam decisões, ao invés de simplesmente pressupor um axioma simples (aumentar a utilidade e diminuir a desutilidade). O livro não é mau, e tem alguns casos interessantes, mas como introdução a este novo ramo da economia encontra-se facilmente melhor no mercado (por exemplo, «Previsivelmente Irracional»).

#31. Torturem os números, que eles confessam (Almedina, 2013) – Pedro Ramos

As estatísticas económicas têm muito que se lhe diga, e por baixo de conceitos aparentemente tão simples como PIB, desemprego ou dívida externa escondem-se realidades bastante complexas. Neste livro, Pedro Ramos – antigo director do departamento de Contas Nacionais – revela alguns dos segredos obscuros das estatísticas económicas e desfaz alguns dos mitos criados pela má utilização de vários indicadores: a produtividade europeia, a insustentabilidade da Segurança Social, o tamanho do Estado e muitos outros. Uma obra interessante para os geeks das estatísticas.

 #30. Portugal: dívida pública e défice democrático (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012) – Paulo Trigo Pereira

O Estado português não tem fama de gerir bem as suas contas. Esta é a parte que qualquer pessoa que leia jornais já sabe. O livro de Trigo Pereira – um dos poucos que percebe bem do que fala neste domínio – vai um pouco mais longe e explica o porquê desta dificuldade congénita: uma democracia fraca, um sistema político esclerosado e processos e instituições orçamentais arcaicas. Um óptimo contributo para se ir além do ‘medinacarreirismo’ do ‘isto é tudo uma choldra…’.

#29. Acabem com esta crise já! (Presença, 2012) – Paul Krugman

O livro de Krugman parte de uma afirmação vigorosa: toda a crise económica por que o mundo está a passar em 2012 podia ser facilmente eliminada se houvesse vontade política. Para tal, argumenta Krugman, seria apenas necessário que a classe política recuperasse os ensinamentos de Keynes e estimulasse a procura global com estímulos. Krugman é um economista de gabarito, e um dos que consegue argumentar de forma mais persuasiva, mas o livro desapontou-me. A obra é sobretudo uma compilação dos seus principais artigos de blogue, e o conteúdo não pode ser diferente ao suporte em que é transmitido. Quem lê o blogue achará o livro mais do mesmo; quem não lê, dificilmente se deixará convencer.

#28. Linhas de Fractura (Verbo, 2011) – Raghuram Rajan

O livro tem credenciais: foi escrito pelo antigo economista-chefe do FMI e ganhou o prémio FT/Goldman Sachs para melhor livro de Finanças de 2010. Em retrospectiva, pode parecer algo bolorento: Rajan faz uma narrativa dos principais desenvolvimentos económicos na Europa e nos EUA ao longo das últimas três décadas e identifica uma série de linhas de fractura que contribuíram para fazer estalar a Grande Recessão em 2008 – o crescimento desmesurado do sistema bancário, a desregulação financeira a desigualdade galopante e o fenómeno dos excedentes comerciais das economias emergentes. Mas a verdade é que os insights de Rajan só parecem clichés por terem inspirado um vasto conjunto de investigação que colocou cada um destes elementos na ordem do dia. Quem quer uma narrativa consistente e não dogmática do germinar da crise tem aqui um bom ponto de começo. A escrita é simples e acessível (talvez até demasiado para os leitores mais especializados).

#27. The Spirit Level (Allen Lane, 2009) – Richard Wilkinson, Kate Pickett

Muita gente conhece o paradoxo de Easterlin: a constatação de que, a partir de um determinado nível de rendimento per capita, o crescimento económico deixa de estar correlacionado com os índices de felicidade pessoal. A resposta, defende este livro, está na desigualdade. Ao longo de mais de três centenas de páginas, os autores mostram como a esmagadora maioria dos indicadores de qualidade de vida dependem muito mais da disparidade de rendimentos entre cidadãos do que propriamente do nível de rendimento médio. The Spirit Level tem uma forte carga ideológica, sobretudo quando salta das correlações apresentadas para prescrições políticas de ruptura. Algumas destas correlações, apesar de interessantes, serão provavelmente espúrias, devido à ausência de controlo estatístico de outras variáveis. Ainda assim, e apesar destes problemas, o livro é muito interessante, por obrigar a pôr em causa algumas ideias mainstream, tendo tido um grande impacto no debate político. A tese central – de que a desigualdade conta muito mais do que se pensava – está hoje na ordem do dia.

#26. Portugal na hora da verdade (Gradiva, 2011) – Álvaro Santos Pereira

Portugal na hora da verdade é um ‘ponto de situação’ da economia portuguesa, um diagnóstico feito em 2011 de um país prestes a entrar em bancarrota. A obra é longa e está repleta de dados, informações e números acerca da realidade nacional, alguns dos quais compilados pela primeira vez. Mas dos factos e números são interpretados de forma algo simplista e passa-se de forma demasiado apressada às prescrições de política. (E sim, é o mesmo Álvaro Santos Pereira que se tornou ministro da Economia)

#25. Previsivelmente irracional (Estrela Polar, 2009) – Dan Ariely

A maior parte da investigação económica começa por pressupor um objectivo para os indíviduos – a maximização da utilidade -, a partir da qual deriva uma série de comportamentos estilizados. Na microeconomia comportamental, majestosamente descrita por Ariely neste livro, a lógica é virada de cabeça para baixo: são utilizados métodos empíricos para levar a exame os postulados mais básicos da teoria económica, como a transitividade de preferências ou utilidade marginal decrescente. O resultado é uma série de experiências deliciosas, que mostram como as decisões que tomamos no dia-a-dia, e as heurísticas que lhes subjazem, são frequentemente irracionais, incoerentes e profundamente contra as previsões da microeconomia. O livro é pequeno, sucinto, bem escrito e organizado. Nem toda a gente consegue conjugar estes predicados num livro que, para além de tudo isto, ainda consegue ser muito interessante.

#24. Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (Relógio d’Água, 2012) – John Maynard Keynes

Economia keynesiana, por estes dias, pode querer dizer muitas coisas. As ideias-chave, que nasceram com Keynes e foram fazendo o seu caminho após a morte do inglês, estão em qualquer manual de introdução à macroeconomia. Mas para quem tem interesse na geneologia das ideias, e quer perceber ao detalhe as polémicas entre os vários seguidores de Keynes (que nos anos 50 se acusaram mutuamente por um suposto ‘abastardamento’ das ideias do mestre), este é um livro altamente recomendado. A leitura é difícil e pesada, mas a prolongada introdução de Paul Krugman ajuda bastante a fazer a digestão

#23. Economia de crise (D. Quixote, 2010) – Nouriel Roubini e Stephen Mihm

O livro mais sólido e completo acerca da Grande Recessão, escrito pelo guru que, em 2006, previu o colapso do sistema financeiro. A obra não tem uma teoria unificadora, mas explica explica tudo aquilo que é preciso saber para se compreender o que aconteceu: desde as linhas gerais, como a liberalização do sistema financeiro e a acumulação de excedentes na Ásia, aos factos mais corriqueiros, como o funcionamento dos credit default swaps e a condução de política monetária pelos EUA antes do rebentar da bolha do subprime. Não há grandes teorias ou narrativas: os autores abdicam de encontrar uma causa profunda e única para a crise, limitando-se a identificar – e a explicar exaustivamente – as causas próximas que levaram à acumulação de desequilíbrios e o boom-bust que se sucedeu. Economia de crise é o verdadeiro manual da Recessão.

 #22. Os milhões da pobreza (Casa das Letras, 2010) – Paul Collier

#21. The White man’s burden (Penguin, 2009) – William Easterly

Easterly é um antigo funcionário do Banco Mundial que deixou de acreditar no que fazia. Na verdade, é um pouco mais complexo do que isto, mas ideia é essa: The White Man’s Burden é, acima de tudo, um alerta vigoroso a quem acha que o crescimento pode ser imposto por fora. Seja através de perdões de dívida ou transferências de fundos – uma crítica às propostas de economias como Jeffrey Sachs -, seja através da importação de políticas económicas e instituições ocidentais – e aqui a crítica vai direitinha para o FMI e o próprio Banco Mundial.  Easterly mostra, em primeiro lugar, como todos os tipos de intervenção externa tiveram um impacto na melhor das hipóteses limitado e, na pior, negativo; e explica, depois, as razões destes falhanços: incapacidade de levar em conta as circunstâncias especiais de cada economia, estruturas sociais profundas destes países que são incompatíveis com princípios da economia de mercado e corrupção endémica. Uma crítica sólida, embora talvez demasiado pessimista, à ideia de que o desenvolvimento pode ser estimulado por fora.

#20. Colapso (Gradiva, 2008) – Jared Diamond

Se calhar não é fácil de encontrar nas prateleiras de economias. Mas como está directamente ligado à economia do desenvolvimento, acho que cabe bem aqui. Colapso é uma obra de fôlego, com umas boas centenas de páginas e muita, muita informação. O autor estuda a queda de várias civilizações – desde os nórdicos da Gronelândia aos ilhéus da Ilha da Páscoa – e mostra (ou tenta mostrar, de forma persuasiva) como todas elas ruíram  às mãos das suas próprias escolhas enquanto sociedade. O traço comum à maioria, argumenta Diamond, é a exaustão dos recursos naturais, que durante demasiado tempo tomaram como adquiridos. Um livro provocador, erudito e, reconheça-se, bastante especulativo. No final, é inevitável fazer a pergunta: como raio ele sabe aquilo tudo?

#19. The Ascent of Money (Penguin, 2008) – Niall Ferguson

 

#18. O Santo Graal da Macroeconomia (Smartbook, 2010) – Richard Koo

 

#17. Capitalism and Freedom (Chicago University Press, 1962) – Milton Friedman

Uma declaração firme de defesa da  liberdade económica e da relação íntima que esta tem com a liberdade política e com a prosperidade. Influenciou gerações de economistas, levou a uma alteração profunda da forma como se via a ingerência do Estado na economia e inspirou ainda as revoluções conservadoras do Reino Unido e Estados Unidos nos anos 80. Sem dúvida, uma das grandes obras de economia e política do século XX.

#16. Felicidade (Gradiva, 2009) – Bruno Frey

A capa anuncia a ‘economia da felicidade’ como uma “revolução em economia”. Que exagero. Utilizar inquéritos para avaliar a felicidade dos seres humanos, e econometria para a correlacionar com características, opções ou comportamentos pessoais – estar ou não casado, ganhar mais dinheiro, etc. – não é nenhuma revolução. Mas é, reconheça-se, um passo significativo em frente, depois de os economistas terem passado décadas e décadas a afirmar que as preferências das pessoas podem ser reveladas pelo seu comportamento – e que, portanto, tudo aquilo que elas fazem é aquilo que maximiza o seu bem estar. Como Frey e os seus colegas mostram, nem sempre é assim, e o ser humano por vezes faz coisas muito disparatadas, tal como as nossas mães sempre nos alertaram. Um livro recomendado sobretudo para quem leva demasiado a sério a ideia do homo economicus.

#15. O milagre europeu (Gradiva, 2002) – E. L. Jones

 Os países europeus foram os primeiros a ‘dar o salto’ nos níveis de vida, a partir dos séculos XVI e XVII, o que gerou uma série de especulações na academia em torno da ‘expecionalidade europeia’. Neste livro, Jones faz uma extensa pesquisa bibliográfica e propõe uma série de respostas – a cultura, a geografia, as instituições, acidentes históricos, a religião, etc., etc. O livro é engraçado, mas dentro do mesmo tema arranja-se bem melhor no mercado. Na economia do desenvolvimento, a concorrência é feroz.

#14. Liberdade para escolher (Europa-América) – Milton e Rose Friedman

Liberdade para Escolher é inspirado na série homónima (“Free to choose”) apresentada por Milton Friedman. O livro é uma defesa apaixonada da liberdade de escolha na educação, na saúde, e segurança social, e é uma bíblia para todos os que desconfiam que a acção do Governo, mesmo que motivada pela boa vontade, acaba frequentemente por fazer mais mal do que bem. É um “parente popular” da obra mais reconhecida de Friedman, Capitalism and Freedom.

#13. O melhor livro no mercado (sobre o mercado) (Bizâncio, 2008) – Eamonn Butler

Uma pequena introdução, simpática e bem escrita, à ideia fundamental de Adam Smith: que “não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro, que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse”. Bom para despertar a curiosidade pela economia e pela natureza da “mão invisível”. Mas não espere do livro muito mais do que isto.

#12. Um Adeus às Esmolas – Uma Breve História Económica do mundo (Bizâncio, 2008) – Gregory Clark

Provavelmente, o livro de história económica mais arrojado do mercado. Também está repletos de dados provocadores, argumentos refrescantes e uma teoria inovadora. Além do mais, está maravilhosamente bem escrito. Em suma, uma obra altamente recomendada – mesmo se, como é provável, acabar o livro a discordar do autor. Gregory Clark defende, basicamente, que há uma fractura fundamental entre o mundo pré-1800, quando a população não vivia melhor do que os homens das cavernas (mas terá de ler o livro para perceber porquê), e o período subsequente, de melhoria sustentada do nível de vida. E argumenta também que as explicações habituais para o desenvolvimento – instituições, liberdade económica, paz e prosperidade – chocam de forma frontal com alguns dos dados básicos de que dispomos relativamente a períodos remotos. Clark sugere que a explicação está numa alteração cultural e genética que se operou pouco a pouco no homem a partir de 1200, e que tornou os europeus de 1800 significativamente diferentes dos europeus do período anterior – um autêntico ‘gene capitalista’.

#11. O fim da pobreza (Casa das Letras, 2006) – Jeffrey Sachs

O prefácio do padre Vítor Melícias e a contracapa com uma imagem de Bono Vox fazem prognosticar o pior: mais um livro activista, que se esgota nas boas intenções. E, na verdade, o livro é mesmo um bocadinho activista. Mas é bem mais do que isso. Jeffrey Sachs, que começou a carreira como economista do FMI a implementar programas de estabilização por esse mundo fora (Bolívia, Polónia, Rússia) defende que as receitas que o Fundo usa não servem para uma boa parte dos países africanos: os problemas, argumenta, não são de má gestão macroeconómica (ou não são apenas desse género), mas sim de limitações geográficas e falta de capital para investimentos iniciais, o que gera uma armadilha de pobreza que se auto-propaga – um ciclo que só poderá ser rompido através de mais (e mais bem direccionada) ajuda externa. Os leitores mais cépticos poderão ter interesse em saber que algumas das ideias de Sachs são hoje em dia levadas muito a sério por vários economistas do desenvolvimento.

#10. Euro forte, euro fraco (Bnomics, 2012) – Vítor Bento

 A crise do euro fracturou a Europa. De um lado os países do centro, habituados à estabilidade orçamental e monetária; do outro, a periferia, acostumada à inflação e desvalorizações. O convívio são numa mesma zona monetária é, para muitos, um objectivo impossível. Neste livro curto, Vítor Bento explica, de forma clara e sucinta, o que é que está em causa. Como acontece com o livro anterior (#9), a obra interessará a meia dúzia de gatos pingados. Mas se o leitor está no lote, então certamente irá gostar.

#9. O Nó cego da Economia Portuguesa (Bnomics, 2010) – Vítor Bento

Em “Perceber a crise…” (#8), Vítor Bento explicou ao detalhe os problemas com que a economia portuguesa se confrontava. No Nó Cego, Bento coloca à lupa aquele que considera ser problema central – o desvio de recursos do sector transacionável para o não transacionável, e o desequilíbrio externo que daí decorre. A obra mantém o nível e o rigor do livro anterior, mas entra já num nível de detalhe que a desaconselha a leitores mais diletantes.

#8. Perceber a crise para encontrar o caminho (Bnomics, 2009) – Vítor Bento

Uma obra prima de análise macroeconómica, que esmiuça, em poucas páginas e com recurso profuso a dados, a armadilha macroeconómica em que Portugal caiu com a adesão ao euro. Vítor Bento explica o desequilíbrio externo, as limitações causadas pela falta de política monetária e cambial e antecipa uma grande recessão na sequência do colapso do financiamento externo. O livro foi escrito em 2009, mas previu (quase) na perfeição o que aconteceria a partir de 2011. Premonitório e iluminado.

#7. Um novo paradigma para os mercados financeiros (Almedina, 2009) – George Soros

George Soros é especulador multimilionário, filantropo e filósofo nas horas vagas. E foi nas horas vagas que escreveu este livro, apresentado como uma grande crítica à hipótese dos mercados eficientes, segundo a qual o preço dos activos reflecte automatica e instantaneamente toda a informação nos mercados. Soros recusa esta hipótese e invoca o conceito de reflexividade – a ideia de que as próprias crenças podem afectar o próprio objecto a que se referem (como, por exemplo, o preço de activos) – para argumentar que os mercados são inerentemente instáveis e propensos a crises. O problema poderá ser da minha falta de conhecimento do ramo, mas apetece perguntar: já não havia gente a dizer isto há 70 anos, de forma mais clara e com menos pretensiosismo?

#6. A metodologia da Economia (Gradiva, 1994) – Mark Blaug

O método da economia, enquanto ciência, foi sempre tema de discussões intensas. O que é que é suposto aprender-se através da dedução de alguns axiomas auto-evidentes do comportamento humano? Alguns economistas (a maior parte?) continua a fazer o seu trabalho sem pensar muito na epistemologia da sua prática; outros, mais diletantes, insistem em fazer perguntas. Este livro sintetiza as de Mark Blaug. Recomendado às poucas centenas de pessoas que têm interesse simultâneo em economia e filosofia da ciência (embora a obra seja um pouco datada).

#5. A Riqueza e a Pobreza das Nações (Gradiva, 2001) – David Landes

O autor inspirou-se no clássico de Adam Smith. O objectivo é semelhante: explicar por que é alguns países são ricos e prósperos e outros se arrastam na miséria. O resultado é uma obra monumental de história económica – mais de história do que de economia -, que passa em revista a riqueza e a pobreza de dezenas de civilizações ao longo da história. Segundo Landes, a resposta para o ‘santo graal’ da economia do desenvolvimento reside numa combinação exótica de factores culturais, religiosos e institucionais dos povos. Mesmo quem duvida – como eu duvido – das explicações etéreas do instuticionalismo e do culturalismo não deixará de achar fascinantes as mais de 800 páginas de história e erudição que Landes oferece aos seus leitores com este livro. Altamente recomendado.

#4. O economista natural (Casa das Letras, 2008) – Robert Frank

Mais um de economia pop. A avaliação pode ir do 8 ao 80, conforme a situação particular do leitor. Pode achá-lo uma explicação magistral para o porquê de as modelos ganharam mais do que os modelos e da razão por que os telecomandos têm tantos botões quando só usamos três ou quatro; ou pode achá-lo uma seca repetitiva se já tiver lido os livros de Leavitt e Harford.

#3. O Economista Disfarçado (Presença, 2006) – Tim Harford

Freakonomics inaugurou o filão da economia pop, O Economista Disfarçado seguiu-lhe os passos. O livro de Harford é menos provocador do que a obra de Leavitt e Dubner, mas também trata os temas de forma mais séria. Como introdução à economia, é provavelmente superior ao Freakonomics. Por outro lado, tem a desvantagem de chegar depois e já com um sabor a pastilha elástica mastigada.

#2. Freakonomics (Presença, 2006) – Steven Leavitt & Stephen Dubner

O livro que inaugurou a chamada economia pop: uma introdução à economia acessível ao grande público, geralmente aplicado o raciocínio económico a casos da vida comum. Como é que a legislação sobre o aborto afecta o crime? Por que é que o preço do café é tão alto nas estações de comboios? Tudo isto é explicado utilizando as ferramentas típicas dos economistas da oferta e da procura. Um livro irreverente e provocador – desde que não seja levado demasiado a sério.

#1. A Era da Turbulência (Presença, 2006) – Alan Greenspan

A auto-biografia de uma das grandes personagens da economia mundial das últimas décadas. O livro está cheio de episódios deliciosos e tem uma coisa de que muito poucos se poderão orgulhar: fornece um relato na primeira pessoa de algumas das maiores crises económicas desde a década de 70.

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