O tamanho do Estado em perspectiva comparada

Uma das coisas que me saltou à vista quando li o Programa de Estabilidade e Crescimento foi o ritmo de redução da despesa pública ao longo dos próximos anos. Há uma descida muito acelerada, que põe o Consumo Público – enfim, chamemos-lhe o ‘tamanho do Estado’, embora não seja exactamente isso – a um inferior ao de 1995.

Agora, dizer que uma rubrica sobe ou desce pode não ser, em si mesmo, muito informativo. Para tornar a informação mais relevante é possível incluir outros países na comparação, contextualizando um pouco mais as oscilações. Mas qual é o benchmark relevante? A média dos países avançados? A Zona Euro?

Uma ideia que tive é pegar num agrupamento de países e criar uma banda em que o ‘topo’ é delimitado pelos países com maior Estado e o ‘fundo’ é fixado pelos países com um Estado mais pequeno. Isto dá uma ideia do ponto em que Portugal está e do lugar para onde se move, agregando numa só imagem muita informação.

Neste caso, usei a lista de países considerada pela AMECO (ou seja, Europa a 27 mais alguns países próximos e grandes economias, como Japão, Canadá ou EUA). O país ‘do topo’ é o terceiro país com maior Consumo Público em percentagem do PIB, e o país ‘do fundo’ é o terceiro país com menor Consumo Público (igualmente em percentagem). Obviamente, o país que desempenha o papel de ‘benchmark’ em cada ano varia, porque a ordem não se mantém ao longo do tempo. A Zona Euro, cuja média é altamente influenciada pelo peso desproporcionado da Alemanha, França e Itália, está ali quase só para enfeitar.

aseNão dá bem para ver na imagem porque os países estão anonimizados, mas se as coisas correrem como o esperado Portugal chega a 2020 com um Estado pouco maior do que o americano. Eu não sei bem o que isto significa. Mas pareceu-me uma coisa tão inesperada que achei que não seria o único a ver interesse na imagem.

 

Boas ideias do PS – Complemento Salarial Anual

Valeu a pena esperar pelo cenário macroeconómico do PS. Entre outras coisas importantes, o documento já pôs toda a gente a discutir questões como o papel do Conselho das Finanças Públicas e da UTAO na avaliação prévia de promessas eleitorais e a importância da divulgação pública dos modelos subjacentes às previsões. São temas recorrentes neste blogue, e é bom saber que, pouco a pouco, esse caminho vai sendo feito.

Mas queria voltar ao tema porque o post de ontem foi demasiado ácido e pode, visto em retrospectiva, ser facilmente mal interpretado. O objectivo não era tanto criticar o programa, que como frisei tem “óptimas ideias que vale a pena discutir”, mas sim desmistificar a ilusão – que por pouco não ganhou lastro nalguns jornais – de que se está na presença de uma “via alternativa”, capaz de ignorar restrições orçamentais e alinhada com a crítica desleixada ao “capitalismo neoliberal” (seja lá o que isso for).

Feito o esclarecimento, queria discutir duas das propostas do documento que me parecem particularmente promissoras. Começo com o Complemento Salarial Anual (página 35), deixando a segunda para um post seguinte.

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