O post anterior decompôs a performance do PIB durante a Grande Estagnação em termos do crescimento da produtividade e das horas trabalhadas. Este post aborda a primeira parte da questão, ficando a segunda para mais tarde.
O que aconteceu então à produtividade? A resposta depende bastante do período para o qual estejamos a olhar. Mas se estivermos interessados na Grande Estagnação, a resposta é: nada de especial. A produtividade cresceu pouco nos sete anos que decorreram de 2000 a 2007, mas não cresceu menos do que nos sete anos precedentes. A produtividade tem aparentemente pouco que ver com a década perdida e com o abrandamento drástico do crescimento económico após a adesão ao euro. Basta calcular taxas de crescimento médias para períodos ligeiramente diferentes para tornar esta conclusão mais saliente.
Haverá quem concorde com este diagnóstico geral, mas acrescente de seguida que a travagem da produtividade é em si mesma um mistério, independentemente do facto de ser datada em 2000 ou 1993.
Aceito, mas este é um mistério longe de ser específico a Portugal. De facto, entre os anos 70 e os anos 90 o crescimento da produtividade abrandou em praticamente todo o mundo desenvolvido. Foi na década de 80 que foi cunhado o termo ‘paradoxo da produtividade’, designando o facto de o crescimento da produtividade ter caído a pique apesar do enorme progresso no sector das tecnologias de informação. A imagem de baixo mostra a evolução da produtividade na média dos países da OCDE, bem como a taxa correspondente nos 20% mais lentos e nos 20% mais rápidos.
Agora, o facto de a produtividade ter abrandado no resto da OCDE não justifica necessariamente a travagem registada em Portugal. Mas é óbvio que ajuda a pôr em perspectiva o que aconteceu nessa altura, tornando o nosso caso particular menos interessante tendo em conta a paisagem circundante. Vejam, por exemplo, como evoluiu a produtividade nacional relativamente à produtividade de referência na Zona Euro.
Que conclusões podemos retirar daqui? Primeiro, é verdade que Portugal tem perdido terreno. Mas a distância começou a ser cavada em 1993, e não após 2001. O problema específico da eficiência da economia tem portanto mais sete ou oito anos do que o problema mais geral da Grande Estagnação.
Segundo, o gap tem o seu ponto máximo em 2005. A partir daí começa a recuar – lenta e timidamente, mas recua.
Por exemplo, em 2013, um terço do gap já tinha sido esbatido. Assim, os anos de divergência face à Alemanha parecem ter sido os de 1993-2005, o que é um período temporal bastante diferente daquele que associamos à Grande Estagnação (2001-2007).
Terceiro, convém não exagerar as implicações implícitas a estas contas. Se o rácio da produtividade portuguesa face à alemã se tivesse mantido estável de 2000 em diante, isso traduzir-se-ia num crescimento adicional da produtividade portuguesa relativamente modesto: +0,3% ao ano. Não é negligenciável, mas também corresponde a passar de um crescimento médio anual do PIB de 1,2 para 1,5%. Continuaria a ser sofrível e muito pior do que o registado na década 90.
O bottom lime não é dizer que está tudo bem a produtividade portuguesa. Obviamente não está. O meu ponto é simplesmente que o problema da produtividade, seja ele qual for, não explica a Grande Estagnação – ou pelo menos explica muito pouco. De forma sintética:
- O crescimento da produtividade abranda de forma drástica algures nos anos 80, seguindo uma tendência transversal a quase todas as economias desenvolvidas;
- O abrandamento superior ao que seria de esperar tendo em conta a tendência prevalecente começa em 1993, sete anos antes da Grande Estagnação. E começa a ser parcialmente revertido em 2005, exactamente a meio da Grande Estagnação;
- Mesmo este desvio face à norma é demasiado curto para explicar grande coisa. A título de exemplo, se a produtividade portuguesa tivesse crescido em linha com a produtividade alemã durante o período 2000-2007, o crescimento médio anual passaria de 1,2% para 1,5%, claramente abaixo da média europeia, abaixo da concorrência e abaixo do registado no período anterior.
Esta questão não se esgota números, e mais lá para a frente vou tentar acrescentar algumas notas adicionais. Mas, por agora, a conclusão principal parece-me robusta aos vários ângulos de análises pelos quais queiramos olhá-la: os problemas de produtividade explicam pouco daquilo que há para explicar da Década Perdida portuguesa.
veja o trabalho que está no site do GEE, logo em destaque: http://www.gee.min-economia.pt/
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Muito obrigado, Ricardo. Nem de propósito 🙂
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