Salário Mínimo e produtividade

No Observador, Luís Aguiar identificou alguns efeitos colaterais indesejáveis do Salário Mínimo Nacional (SMN). Pedro Pita Barros respondeu no seu blogue, com um argumento que me deixou com vontade de acrescentar dois cêntimos à conversa.

O principal argumento contra o SMN é conhecido e bastante simples. Se assumirmos que a) a procura de mão-de-obra é tanto maior quanto menor for o seu preço; e b) a oferta de mão-de-obra cresce em função desse mesmo preço; então c) a imposição de um mínimo negocial tem como resultado inevitável a subida do salário de equilíbrio, às custas do desemprego de uma parte da população1. Assim:

Wage_labour

Mas isto não significa necessariamente que o SMN seja má política. Tudo depende do trade-off concreto que se colocar em cada situação. Por exemplo, considere-se os dois seguintes painéis, que tentam retratar (em Paint…) o mesmo dilema do gráfico anterior.

2

As duas figuras representam uma mesma subida do SMN. Mas ao passo que na primeira essa subida acarreta um enorme aumento do desemprego, na segunda os estragos são incipientes. Esta diferença abissal não decorre da utilização de “modelos” diferentes. É apenas uma consequência do facto de as curvas de procura e oferta não terem a mesma inclinação – muito inclinadas num caso, e bastante achatadas no outro.

Podemos pensar em muitas histórias para defender que um mercado em particular está numa ou noutra situação. Por exemplo, se estivermos a falar de uma pequena localidade onde uma única empresa tem grande peso no emprego total (uma espécie de monopsónio laboral) é provável que a situação se assemelha mais à do segundo painel, o que torna o SMN uma opção relativamente menos custosa.

Mas o ponto essencial aqui é que é perfeitamente possível levar a sério a Microeconomia 1.01 e ao mesmo tempo ser a favor do SMN. Tudo depende da elasticidade da procura e da oferta que acreditamos que predomina num determinado mercado – uma questão completamente empírica – e do valor relativo que atribuímos ao salário médio e ao volume de emprego – uma questão normativa. Não há nenhuma incompatibilidade entre ser economista e ser de Esquerda.

Mas o argumento de Pita Barros que me chamou a atenção não é bem que a dimensão do trade-off entre salários é mais baixa do que se pensa:

Sobre este aspecto, volto a um post do ano passado (aqui), quando me parecia que um benefício possível do aumento do salário mínimo consistia na pressão sobre as empresas para aumentar a sua produtividade por forma a sobreviverem, sendo a baixa produtividade em Portugal um problema ainda à procura de solução. Além disso, ter que pagar um salário mínimo mais elevado pode levar as empresas a terem uma maior preocupação em garantir boas contratações, o que poderá gerar maior estabilidade de emprego.

Se bem percebo este argumento, a ideia é que o SMN incentiva as empresas a aumentarem a produtividade para justificarem os salários mais altos. Se quisermos expressar este raciocínio em termos de um diagrama de oferta e de procura, na prática é como se a subida do SMN deslocasse para a direita a própria curva de procura de mão-de-obra. Se o quisermos expressar em português corrente, dizemos que a necessidade aguça o engenho.

Eu tenho algumas dúvidas em relação a este argumento. Por duas razões, uma conceptual e outra de circunstância.

A primeira objecção é simples, mas incontornável. Se for mesmo possível aumentar a produtividade rapidamente e sem custos adicionais, não é muito fácil perceber por que é que as empresas já não o fizeram antes. Dizer que não havia essa necessidade, porque era possível apoiar a actividade em salários baixos, não me parece convincente. Afinal de contas, até uma empresa com salários baixos pode lucrar pelo facto de ter empregados mais produtivos (quanto mais não seja por poder despedir uma parte dos que deixam de ser necessários).

No fundo, a questão é que o incentivo para aumentar a produtividade já está presente, independentemente de a empresa em questão pagar ou não salários baixos. Ou há uma enorme inércia por parte dos empresários, que têm o fruto à mão e são demasiado indolentes para se mexer mais do que o estritamente necessário para sobreviver, ou é difícil acreditar que custos acrescidos possam servir como um incentivo para melhores práticas de negócio.

Aliás, se levarmos o argumento da inércia a sério parece-me que abrimos uma enorme caixa de Pandora. Por que não, por exemplo, lançar um imposto especial sobre actividades económicas de baixo VAB/empregado? Esta medida tem aparentemente o mesmo efeito de incentivo, porque gera um custo adicional para empresas de baixa produtividade – com o benefício adicional de ter a mira mais afinada, uma vez que incide exactamente sobre as companhias onde a margem de progressão é maior (sim, em princípio o salário é igual à produtividade, mas a horizontes temporais curtos pode haver uma divergência significativa). Penso que a maioria dos economistas encara esta sugestão com cepticismo.

A minha segunda objecção é mais importante, e não é tanto ao argumento em si mas aos riscos que a política acarreta. A questão do risco é essencial, porque quando fazemos escolhas não estamos interessados apenas na opção que maximiza o benefício esperado; queremos também, pelo menos em princípio, levar em conta os custos potenciais de cada escolha, de maneira a limitar as nossas perdas.

Imagine-se que o SMN de facto aumenta a produtividade. Se não tivermos subido o SMN teremos abdicado desse acréscimo de produtividade. Mas esse acréscimo não é grande (ao nível agregado, pelo menos) e pode ser compensado com outras políticas – como o imposto sobre o VAB baixo, se acreditarmos a sério na ideia da “necessidade aguça o engenho”, ou reformas estruturais, se tivermos muita paciência.

Se, por outro lado, subirmos o SMN e a produtividade não aumentar, o problema não é que o desemprego sobe. É que sabemos com cada vez mais certeza que o alto desemprego tende a ser persistente, arrastando-se no tempo e cristalizando-se à medida que os anos passam (ver aqui e aqui). Corremos por isso o risco de atirar para o desemprego algumas pessoas – não muitas, mas algumas – precisamente na altura em que ele deixa chagas mais profundas e duradouras.

Ou seja, os riscos das duas opções não são simétricos. Talvez isto não chegue para abdicarmos da subida do SMN como medida de combate à pobreza. Mas parece-me que é suficiente para pelo menos deixarmos essa experiência para quando o desemprego descer abaixo dos 10%.

1 Se deixarmos cair o pressuposto de que a oferta de mão-de-obra é uma função decrescente do salário podemos obter resultados interessantes, como podem ver aqui.

20 comments on “Salário Mínimo e produtividade

  1. carlos diz:

    O aumento do salário mínimo, sem falar da justeza desse aumento, tem desde logo duas grandes vantagens.
    A PRIMEIRA traduz-se pelo combate à fraude fiscal. Muitas pequenas e médias empresas, sobretudo na área da construção e serviços, apesar de terem contractos com os seus trabalhadores, mesmo os mais qualificados, pelo valor do salário mínimo, pagam-lhes realmente em dobro ou em triplo dependendo da especialidade do trabalhador. O trabalhador leva assim para casa mil, mil e quinhentos ou mais euros ainda que o seu salário “oficial” seja o ordenado mínimo. E com este “esquema”, ganha o patrão porque não paga a TSU correspondente ao valor real do salário e ganha o trabalhador porque paga menos impostos, Contribuição para a SS e IRS. É um esquema que está generalizado por todo o país.
    A SEGUNDA resulta do facto de que a política dos baixos salários induz à retracção do investimento na modernização dos meios de produção. Um patrão consegue com mais baixos salários atingir a mesma produtividade que com políticas de salários mais altos se veria obrigado a modernizar a sua empresa. Com salários mais elevados ver-se-ia obrigado a substituir a aparelhagem produtiva conseguindo desse modo os ganhos de produtividade que os salários baixos lhe vão proporcionando.
    São duas questões importantíssimas que não vejo serem discutidas por quem parece tanto preocupar-se com a problemática do salário mínimo.

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    • Acro diz:

      “Com salários mais elevados ver-se-ia obrigado a substituir a aparelhagem produtiva conseguindo desse modo os ganhos de produtividade que os salários baixos lhe vão proporcionando”

      Comentário:

      Soluções?:

      1) Para aumentar a produtividade terá de ter mais Capital, o que na maioria das empresas portuguesas não abunda, pois estão muito endividadas.
      2) A opção seguinte seria recorrer a mais Dívida => Suicídio
      3) Outra Opção seria Deslocalizar.
      4) Outra Fechar => + Desemprego
      5) Outra seria a abertura ao Capital estrangeiro (o único que ainda vai existindo) , o que com a uma doutrina de esquerda anti-capital no poder, está bom de ver que não será opção real.

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  2. carlos diz:

    Quanto ao desemprego, acredita mesmo que o desemprego em Portugal anda na casa dos 12%?
    E que quando chegar(?) aos10% esse numero mágico (10%) reflete efectivamente o desemprego real no país?

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  3. “Se for mesmo possível aumentar a produtividade rapidamente e sem custos adicionais,”

    Não me parece que o “sem custos adicionais” seja fundamental aqui – a ideia de que altos salários estimulam o crescimento da produtividade até me parece ter implícito uma raciocínio do género “aumentar a produtividade tem custos, mas numa economia com altos salários vale a pena incorrer nesses custos, enquanto com baixos salários sai mais lucrativo não mudar de tecnologia”.

    Agora, há uma coisa – em termos de empresa individual, esse raciocinio só me parece fazer sentido se a ideia de “investir” (seja dinheiro, seja simplesmente tempo de trabalho do gestor) para aumentar a tecnologia seja ter menos trabalhadores do que teriam com a tecnologia antiga (é por isso que os altos salários estimularão o progresso – porque o que a empresa tem a ganhar com despedir/deixar de contratar trabalhadores é tanto maior quanto mais altos forem os salários); no entanto:

    – de qualquer maneira, não me parece que PPB no seu post apresente esse efeito como uma refutação da tese que aumentar o SMN causa desemprego; a ideia dele parece-me mais ser “mesmo que tenho o defeito de talvez aumentar o desemprego, por outro lado vai contribuir para aumentar a produtividade”

    – mesmo que nível da empresa individual a intenção do empresário ao adotar novas tecnologias seja ter menos trabalhadores do que teria com as velhas tecnologias, esse efeito talvez não seja verdadeiro para a economia no seu todo: isto é, o aumento da produtividade da empresa X reduziria, ceteris paribus, o emprego na empresa X, mas a maior produção da empresa X significa mais procura dos produtos da empresa Z, logo mais trabalhadores empregados na empresa Z (não pensei nisto muito aprofundadamente, mas talvez possa haver um cenário em que nos sectores cuja produtividade cresce mais que a produtividade média o emprego diminua, nos sectores em que cresce menos o emprego aumento, o que no global o aumento da produtividade média não tenha efeitos sobre o nível de emprego)

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    • Não sei… Se a procura global não se alterar, o aumento de produtividade de X pode não gerar produção adicional, mas apenas mais desemprego na própria empresa. Parece-me que é preciso ter aí algures um banco central a descer taxas de juro ou os trabalhadores a aumentar a sua procura na antecipação de maior rendimento futuro devido à expectativa de maior produtividade. Acho, mas também não pensei muito bem.

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      • Pensando micro-economicamente, a adopção de uma tecnologia mais produtiva deslocaria para a direita a curva da oferta dos produtos da empresa; logo a menos que a curva da procura seja uma reta vertical, haveria sempre algum efeito de redução de preço / aumento de produção.

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      • Miguel,

        «Pensando micro-economicamente, a adopção de uma tecnologia mais produtiva deslocaria para a direita a curva da oferta dos produtos da empresa; logo a menos que a curva da procura seja uma reta vertical, haveria sempre algum efeito de redução de preço / aumento de produção.»

        Mas essa relação não se verifica apenas se a difusão da tecnologia for transversal a toda a economia? Parece-me que se estivermos a falar de uma empresa individual é perfeitamente possível aumentar a produtividade, despedir trabalhadores e aumentar lucros. A descida de preços é posterior, e resulta da pressão sobre o mercado de trabalho e o salário de equilíbrio exercida pelos novos desempregados. Enfim, já estou a ficar confuso.

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  4. carlos diz:

    “é por isso que os altos salários estimularão o progresso – porque o que a empresa tem a ganhar com despedir/deixar de contratar trabalhadores é tanto maior quanto mais altos forem os salários)”

    E por que não pensar-se num aumento da quantidade de produção (devido ao aumento da produtividade) que contrabalance o despedimento? Porque razão apenas se coloca a hipótese do despedimento?

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    • Porque se a empresa (e repare que falo da empresa, não do conjunto da economia) conseguisse aumentar a sua produtividade sem diminuir a sua força de trabalho, o aumento do salário não seria um incentivo para o aumento da produtividade.

      Imagine-se uma empresa com 10 trabalhadores, cada um a receber 500 euros, e a produzir bens no valor de 7000 euros (lucro: 2000 euros = 7000 – 500*10); agora suponhamos que se punha em prática uma nova tecnologia, em que a empresa continuava a empregar 10 trabalhadores, mas agora estes produziam bens no valor de 10.000 euros – o lucro passava a ser de 5000 euros = 10.000 -500*10. Ou seja, a introdução da nova tecnologia levaria a que os lucros aumentassem 3000 euros.

      Agora vamos imaginar que o salário não era 500 euros mas 600. Com a tecnologia velha, a empresa teria um lucro de 1000 euros (7000 – 600*10); com a nova um lucro de 4000 euros (10.000 – 600*10); de novo a introdução da nova tecnologia levaria a que os lucros aumentassem 3000 euros, pelo que o incentivo a introduzir a nova tecnologia seria o mesmo (por outras palavras, o aumento salarial não seria um estimulo à modernização).

      Mas agora vamos imaginar que o efeito da nova tecnologia não era continuar a empregar 10 trabalhadores, agora a produzir bens no valor de 10.000 euros, mas sim passar a empregar 8 trabalhadores, produzindo bens no valor de 8000 euros.

      Com um salário de 500 euros, na velha tecnologia a empresa teria o tal lucro de 2000 euros (7000 – 500*10), e na nova teria um lucro de 4000 euros (8000 – 500*8); ou seja, a modernização levaria a um lucro adicional de 2000 euros.

      Com um salário de de 600 euros, na velha tecnologia a empresa teria um lucro de 1000 euros (7000 – 600*10) e na nova teria um lucro de 3200 euros (8000-600*8), ou seja um lucro adicional de 2200 euros – ou seja, neste cenário o aumento salarial já contribui para tornar a nova tecnologia mais atrativa.

      Atenção que quando eu falo em empregar menos trabalhadores do que empregaria com a velha tecnologia isso não implica forçosamente despedimentos – pode simplesmente significar menos novas contratações: os exemplo que apresentei atrás podem perfeitamente corresponder a uma situação em que a empresa tem atualmente 5 trabalhadores a produzir bens no valor de 3.500 euros e a dúvida é manter a tecnologia atual, contratar mais 5 trabalhadores e passar a produzir bens no valor de 7000 euros, ou adotar uma nova tecnologia, contratar só mais 3 trabalhadores, e passar a produzir bens no valor de 8000 euros.

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      • carlos diz:

        “pelo que o incentivo a introduzir a nova tecnologia seria o mesmo (por outras palavras, o aumento salarial não seria um estimulo à modernização”.
        Estou em desacordo. Na verdade, seguindo os exemplos que apontou (alias profundamente irrealistas diga-se) e analisando os dados não em função dos lucros (no exemplo dado não se poderão chamar lucros à diferença entre o valor da produção e o valor total dos salários, há outras despesas) mas em função da percentagem do valor dos salários face ao valor da produção, com iguais parâmetros nós teríamos, seguindo o seu exemplo e pela mesma ordem. No caso 7000/5000 obteríamos um valor para a percentagem do valor dos salários face à produção de 71%. No caso da introdução de novas tecnologias e salários de 600 euros, 10.000/6000 nós teríamos um custo salarial em percentagem do valor da produção inferior da ordem dos 60%. Obtemos assim maiores lucros apesar do aumento dos salários face ao valor da produção.
        Quer dizer a obrigação por imposição do novo salario mínimo de 600 euros obrigou o empresário a modernizar a empresa (senão ficaria com um peso insustentável de 85% do valor da produção de massa salarial) e com isto obteve um valor da massa salarial em percentagem do valor da produção de apenas 60%.
        Ganhou o empresário, ganharam os trabalhadores, ganhou a economia com mais liquidez no mercado e o próprio Estado através de maiores receitas.

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      • “analisando os dados não em função dos lucros ”

        Eu estou a partir do principio que o objetivo do empresário é ter o maior lucro possível, logo partindo desse pressuposto (que admito possa ser discutível), o aumento do salário afeta a escolha de uma nova tecnologia na medida em que afeta os lucros.

        Mas vamos deixar de lado os meus exemplos irrealistas, e pensar em termos gerais. Vamos pensar que uma empresa pode ou não adotar uma nova tecnologia.

        Então temos:

        [lucros com a velha tecnologia] = [valor da produção com a velha tecnologia] – salários*[nº de trabalhadores com a velha tecnologia] – [outros custos com a velha tecnologia]

        [lucros com a nova tecnologia] = [valor da produção com a nova tecnologia] – salários*[nº de trabalhadores com a nova tecnologia] – [outros custos com a novatecnologia]

        beneficio para a empresa de adotar uma nova tecnologia = [lucros com a nova tecnologia] – [lucros com a velha tecnologia] = ([valor da produção com a nova tecnologia] – [valor da produção com a velha tecnologia]) – salários*([nº de trabalhadores com a nova tecnologia] – [nº de trabalhadores com a velha tecnologia]) – ([outros custos com a nova tecnologia] – [outros custos com a velha tecnologia])

        Simplificando a fórmula:

        ▲lucros = ▲[valor da produção] – ▲[nº de trabalhadores]*salário – ▲[outros custos]

        Para concluirmos que um aumento de salários estimula a empresa a modernizar-se, isso implicaria que o aumento dos lucros criado pela modernização fosse tanto maior quanto maior fosse o salário; mas para ser assim, a variação do número de trabalhadores na sequência da nova tecnologia teria que ser negativa (se a modernização não tivesse influência no número de trabalhadores, o nivel salarial não influenciaria a variação dos lucros, e logo o incentivo para a empresa inovar seria o mesmo com salários altos ou baixos).

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      • Mas realmente ocorre-me um cenário (se alterarmos as minhas premissas)em que um aumento do salário talvez incentivasse a modernização mesmo que não cause desemprego.

        Todo o meu raciocinio tem sido feito no pressuposto que o objetivo do empresário é maximizar o lucro absoluto; mas se admitirmos que o crescimento relativo dos lucros pode ser psicologicamente mais importante que o absoluto, aí a coisa muda de figura.

        Dito de outra maneira – se admitirmos que um empresário não está disposto a adotar uma nova tecnologia para subir de 9.000 para 10.000 euros (11% de aumento) de lucros, mas já o está disposto se for para subir 1000 para 2000 (100% de aumento), já consigo imaginar uma nova gama inteira de situações em que subir os salários (ou, já agora, as rendas dos alugueres comerciais – uma questão que suponho ser ideologicamente simétrica à dos salários) possa estimular as empresas a inovar.

        Pegando no meu primeiro caso (em que a empresa continua a empregar 10 trabalhadores), com o salário a 500 euros o lucro sobe 150% (de 2000 para 5000 euros) e a 600 euros o lucro sobe 300% (de 1000 para 4000 euros) – logo, se fossêmos pelo critério do crescimento relativo, com salários de 600 euros o incentivo à modernização seria maior).

        Mas tenho dúvidas que esta hipotese de o empresário se guiar pelo crescimento relativo dos lucros faça sentido.

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  5. carlos diz:

    No segundo exemplo que dá ficamos sem saber que razão leva o empresário a reduzir o número de trabalhadores. O “efeito da nova tecnologia” de que fala não nos diz nada.
    Com 10 trabalhadores ou com 8 trabalhadores a percentagem do valor do trabalho face ao valor da produção é inalterável, 60%, mas os “lucros” de que fala aumentam de uma situação para a outra. De 3.200 para 4.000 (8000/4800; 10000/6000).

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    • O motivo é ele não ter (ou achar que não tem, o que vai dar ao mesmo) procura para uma produção no valor de 10.000 euros.

      Lá acima (comentário das 10.34, 09/11/2015 ao Pedro Romano) eu escrevi que o cenário de um aumento da produtividade só gerar desemprego e não aumento da produção só ocorreria se a empresa tivesse sujeita a uma curva da procura vertical (em que seja a que preços vendesse a mercadoria, teria sempre a mesma quantidade encomendas); já a ideia oposta, de o aumento da produtividade só dar origem a um aumento da produção, sem redução da mão-de-obra, só fará sentido no caso de uma curva da procura horizontal (em que, a um dado preço, a empresa pode vender tudo o que conseguir produzir – o que, aliás, poderá não ser irrealista para algumas empresas produzindo produtos indiferenciados e que vendam para o mercado mundial)

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      • carlos diz:

        É suposto que a Oferta tem sempre Procura. Ou não?

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      • Não (pelo menos a rua do comércio de Portimão está cheia de lojas que fecharam – o que quer dizer duas coisas: que havia lojas que ofereciam – i.e.. vendiam – bens mas não tinham procura, e que agora há proprietários imobiliários a “oferecerem” lojas e que também não têm procura, porque elas estão fechadas com uma tabuleta a dizer “aluga-se”)

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    • carlos diz:

      “analisando os dados em função dos lucros ”
      Seguindo o seu exemplo inicial.
      Passo 1. O empresário tem 10 trabalhadores na sua empresa com um vencimento de 500 euros e uma Produção no valor de 7.000 euros. Obtém um “lucro” de 2000 euros.
      Passo 2. A legislação obriga a que o salário mínimo suba para 600 euros. Não moderniza e obtém assim um “lucro” de 1000 euros.
      Passo3. Moderniza e aumenta o valor da produção para 10.000 com o igual número de trabalhadores (10). Obtém agora um lucro de 4000 euros.
      A hipótese de ele modernizar e continuar com os salários de 500 euros não se coloca por imperativo legal.
      Os lucros aumentaram em dobro, passaram de 2000 para 4000.
      Mas haverá outra hipótese no caso de não haver respeito pelo salário mínimo. O empresário obteria o mesmo lucro de 4000 euros se reduzisse o salário para 300 euros sem modernização. É por esta razão que a “política dos baixos salários (e redução de salários) induz à retracção do investimento na modernização dos meios de produção”.

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      • Mas o lucro aumentava há mesma se ele tivesse modernizado e o salário mínimo não tivesse subido; é que para ver os efeitos do aumento do SMN sobre a modernização não podemos fazer essa comparação entre dois cenários “o salário mínimo aumenta e a empresa moderniza” vs “o salário mínimo não aumenta e a empresa não moderniza”.

        Temos que comparar quatro cenários

        A – empresa não moderniza e o salário não aumenta
        B – empresa moderniza e o salário não aumenta
        C – empresa não moderniza e o salário aumenta
        D – empresa moderniza e o salário aumenta

        O aumento do salário só é um incentivo à modernização se [lucros em D] – [lucros em C] > [lucros em B] – [lucros em A]

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  6. carlos diz:

    O princípio que defendo é que a redução de salários ou a sua estagnação induz à retracção da modernização, isto é à retracção do investimento.
    E penso que o demonstrei bem com o exemplo formulado (“mas haverá outra hipótese no caso de não haver respeito pelo salário mínimo. O empresário obteria o mesmo lucro de 4000 euros se reduzisse o salário para 300 euros sem modernização”) onde se constata que o empresário obtém os mesmos ganhos de competitividade, ou o mesmo “lucro” se descer salários sem modernização.
    A fórmula a que chegou “beneficio para a empresa de adotar uma nova tecnologia = [lucros com a nova tecnologia] – [lucros com a velha tecnologia] = ([valor da produção com a nova tecnologia] – [valor da produção com a velha tecnologia]) – salários*([nº de trabalhadores com a nova tecnologia] – [nº de trabalhadores com a velha tecnologia]) – ([outros custos com a nova tecnologia] – [outros custos com a velha tecnologia])” penso que não responde às conclusões que tira.
    Lvt=Pv-Sv
    Lnt=Pn-Sn
    Lnt-Lvt=(Pn-Sn) – (Pv-Sv)
    Lnt-Lvt=Pn-Sn-Pv+Sv
    Lnt-Lvt=Pn-Pv-Sn+Sv
    Pode concluir-se então que quanto mais baixo for Sv (redução salarial) mais baixa será a diferença de lucros ou o benefício. Estarei enganado?

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    • Acho que está, porque parece-me que continua a assumir que só dá duas opções: a) adotar uma nova tecnologia e os salários subirem; e b) manter a velha tecnologia e os salários não subirem (pelo menos é qie deduzo das suas fórmulas em que só tem “Lvt=Pv-Sv” e “Lnt=Pn-Sn” e não tem as opções “Lvt1=Pv-Sn” – os lucros mantendo a tecnologia e subindo os salários – e “Lnt0=Pn-Sv” – os lucros modernizando mas não subindo os salários).

      No fundo, o que temos que explicar aqui é “se há uma nova tecnologia disponível, porque é empresa não a adotou já e só a irá adotar se os salários subirem?”

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