Lembram-se desta imagem, que referi em EUA, terra de oligopólios? É de um estudo de Phillippon, Dottling e Gutierrez, que tenta tomar o pulso à evolução da concorrência na economia americana. O panorama não é dos melhores.
O Índice de Herfindahls e a quota de mercado das maiores companhias, claro, não são métricas directas do grau de concorrência. São apenas medidas da relevância das grandes empresas – algo que se presume influenciar o poder de mercado de cada player e, portanto, condicionar a concorrência. Mas medir directamente a concorrência é coisa que não é fácil fazer.
Bom, sucede que entretanto surgiu um estudo muito interessante que espreita para dentro da estrutura de custos das empresas americanas para, na medida do possível, comparar custos marginais com preços de venda. A ideia é depurar uma métrica aceitável da concorrência entre empresas nos EUA, tão fiel quanto possível à definição utilizada em microeconomia 1.01: mark-ups tão pequenos quanto possíveis.
As contas só abrangem empresas cotadas em bolsa, mas ainda assim é impressionante. Os mark-ups estão a subir sem parar. E estão a fazê-lo desde os anos 80, coincidindo com o período áureo do reaganomics. E esta, hein?
Há muitas explicações para isto: avanços tecnológicos que favorecem a emergência de mercados do tipo winner-takes–it-all, um enforcement mais laxista de regulação anti-trust, a emergência do crony-capitalism e até a possibilidade (defendida, por exemplo, por Dean Baker) de a desregulação servir os interesses de monopolistas e rentistas, em vez de nivelar o terreno de jogo.
Gostava de ter algum tempo para escrever sobre isto, mas é um tema demasiado importante para tratar numa meia hora entre o almoço e o trabalho. Até lá, podem dar uma vista de olhos aqui.
Talvez também produtos mais únicos e especializados (ou percepcionados como tal pelos consumidores, que é o que interessa), mesmo no que respeita às pequenas e médias empresas – com cada barbearia, restaurante, cerveja artesanal, etc. a querer ser “única” e “alternativa” (ou seja, uma transformação da concorrência perfeita em concorrência monopolista)?
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Sim, sem dúvida. Eu já não consigo arranjar um restaurante simpático sem que me tentem enfiar à força um “conceito” e uma “experiência única” pela goela abaixo.
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