A taxa de poupança das famílias tem estado a cair nos últimos trimestres. Na verdade, tem estado a cair muito – tanto que em 2016 até escrevi um post a alertar para as diferenças conceptuais entre a ‘poupança’ que a aparece nas notícias e a ‘poupança’ que temos na cabeça quando falamos coloquialmente sobre estes assuntos (e outro a chamar a atenção para a poupança das empresas).
Em todo o caso, e minudências técnicas à parte, há mesmo alguma coisa estranha a passar-se com a poupança. A taxa está no valor mais baixo desde 1999, abaixo dos 4% do rendimento disponível e cerca de quatro pontos percentuais atrás do valor registado em 2013.
Mas parece que tudo depende muito de como avaliamos a poupança. O INE também faz um inquérito mensal às famílias, onde lhes pergunta sobre o seu grau de poupança, e as respostas dos últimos não batem certo com os dados ‘puros e duros’ das contas nacionais. No período mais recente, aliás, as duas séries parecem caminhar em direcções completamente opostas.
Eu tenho uma ideia do que pode estar na raiz da divergência. O ‘Grau de Poupança do agregado familiar’ parece ser o resultado de uma diferença entre as respostas extremas dadas à pergunta «Em que medida é o seu agregado familiar capaz de poupar dinheiro durante o mês?» (ou coisa que o valha). O INE compara as respostas, apura o saldo líquido e publica o número. É por isso possível que a unidade das duas métricas (explícita ou implícita) não seja exactamente a mesma – ou até que as famílias estejam a reportar possibilidades de poupança, e não poupanças efectivas.
Em todo o caso, uma pista engraçada para quem se ocupa destas coisas.
Ideia que me ocorre – uma politica de transferência de rendimentos para pessoas com reduzida propensão à poupança tenderá a reduzir a poupança real (já que essas pessoas irão gastar quase todo o dinheiro adicional que recebam) e aumentar a poupança psicológica (já que, quase por definição, será nesse grupo que se concentram as pessoas que dizem que não consegue poupar dinheiro, e logo também aqueles em que dinheiro adicional pode fazer a diferença entre conseguir ou não poupar dinheiro).
GostarGostar
É possível, mas eu duvido muito que essa política esteja a acontecer. As grandes transferências são sobretudo para a classe média/média alta (basta comparar a despesa adicional com salários da FP com a despesa adicional com RSI ou CSI…).
GostarGostar