O INE publicou ontem os números do Inquérito ao Emprego para o terceiro trimestre. Não foi o dia mais feliz para divulgar a coisa, porque os portugueses – e o resto dos seres humanos, no geral – estavam mais atentos ao se passava no outro lado do globo. Mas agora que o choque já lá vai (sim, estou a ser irónico) podemos voltar a olhar para o que se passa cá dentro.
Primeira boa notícia: o desemprego continua a descer. Durante alguns trimestres o mercado de trabalho comportou-se de forma um pouco errática, e chegou a haver quem antecipasse uma inversão da tendência (ver Descida do desemprego: inversão de ciclo? e Desemprego: no meio do ruído há qualquer coisa a mexer). Felizmente, os números do terceiro trimestre confirmam aquilo que escrevi na altura: era apenas ruído a confundir a análise.
E isso é muito claro se pusermos as coisas em perspectiva. Em baixo, a evolução da taxa de desemprego (linha azul) e a correspondente subida/descida, assinalada nas colunas e medida em pontos percentuais na escala da direita.
A própria descida da taxa de desemprego, que se ficou pelos 0,3 pontos percentuais, está a esconder algumas coisas interessantes. Por baixo deste valor está uma redução do número de desempregados na casa do 10.000, mas um crescimento do número de postos de trabalho da ordem dos 59.000. Isto é, a criação de emprego traduziu-se mais num aumento da população activa do que numa diminuição do número de desempregados.
Olhando apenas para o volume de emprego para depurar melhor as dinâmicas do mercado de trabalho chegamos ao seguinte gráfico. A imagem mostra a criação de emprego em todos os terceiros trimestres dos últimos 18 anos, bem como a média de dois períodos distintos. Os valores de 2016 parecem bastante bons, por comparação.
Uma nota de cautela: é bastante possível que os valores de 2016 estejam influenciados pelo fim de um poderoso efeito base – o fim da redução dos programas ocupacionais. Estes programas começaram a ser eliminados em meados de 2015, o que tem retraído a criação de emprego desde então. Se esse movimento já estancou – e não sei se estancou, porque ainda não actualizei os dados – é provável que isso justifique a diferença que se nota no gráfico entre 2015 e 2016.
Portanto, continua tudo igual. O desemprego a descer, o emprego a aumentar e uma divergência persistente entre a performance do mercado laboral e a evolução da actividade económica.
Podemos concluir que a produtividade tende a decrescer?
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A economia cresceu neste trimestre – creio que supostamente, primeiro cresce o PIB, e depois cresce o emprego. Mas sera esta relacao sempre assim? Isto e, podera estar a suceder que o emprego ]e um lead indicator para o PIB?
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Os dados do emprego não são ajustados de sazonalidade, por isso a comparação não pode ser feita dessa forma.
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