O INE acabou de publicar o Inquérito à Situação Financeira das Famílias, um relatório rico e detalhado acerca da situação patrimonial e financeira dos portugueses.
É o tipo de coisa que pode dar jeito a jornalistas que estejam interessados – por exemplo – em saber quanto é que a ‘classe média’ tem guardado no banco. Ou qual o valor do seu património imobiliário. Ou quantas pessoas têm acções e outras aplicações financeiras, e onde estão essas pessoas na escala de rendimentos. Nesta altura – e talvez durante os próximos dois anos – pode ser um recurso valioso.
Eu dei uma vista de olhos nos principais números, que actualizam para 2013 as informações que tinham sido divulgadas pela última vez em 2010. O que mais me chamou a atenção foi a variação da riqueza financeira líquida (activos menos passivos) ao longo da escala de rendimentos.
Os números são mais ou menos estes. De 2010 para cá, as duas ‘abas’ da distribuição de rendimentos (‘ricos’ e ‘pobres’, para simplificar) não tiveram sortes iguais. quem estava no grupo dos 20% mais pobres perdeu quase metade do seu património (primeira coluna à esquerda); quem estava do outro lado acabou por ganhar. Ligeiramente, mas ganhou.
Concluiu-se mais ou mesmo ou mesmo quando dividimos a amostra não por percentis de rendimento, mas por percentis de riqueza. Neste caso, as diferenças entre os extremos são, por razões óbvias, bastante maiores. Mas o ponto do parágrafo anterior mantém-se: quem estava no fundo perdeu, e quem estava lá à frente ganhou (Nota: nem todos estes números estão disponíveis no destaque do INE. Alguns valores tiveram de ser retirados do boletim de 2010)
Mas confesso que não sei até que ponto é que estes dados não ser um subproduto da forma como os dados recolhidos. A nota metodológica do INE sugere que estes são dados seccionais – isto é, o INE pega nos resultados de cada ano e ‘divide-os’ por escalões de rendimento (ou riqueza) e calcular estes valores. O que não significa que os mais ricos de 2010 tenham ganho em 2013, e que os mais pobres tenham perdido. É perfeitamente possível que de um inquérito para o outro tenha havido uma recomposição das famílias que compõem o lote de ‘ricos’ e de ‘pobres’. Na prática, portanto, estaríamos apenas a ver medianas de riqueza de grupos diferentes.
Em todo o caso, o boletim é uma óptima fonte de informação para conhecermos melhor a sociedade portuguesa – mesmo que nem sempre permita responder às perguntas que achamos mais interessantes.
Seguramente não sei nada sobre o assunto, mas tenho lido aqui e ali e tenho ideia de que o João César das Neves em determinada altura chamava muito a atenção para a alteração no perfil dos desempregados, com a ruina do sector da construção civil: o número de pessoas de baixas qualificações tinha vindo a aumenta muito no desemprego (suponho que também haveria qualquer relação com a restauração).
Se assim for, não é surpresa que sejam as pessoas de mais baixo rendimento a perder mais, porque correspondem aos mais afectados pelo desemprego.
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Quer isso dizer que os 20% mais pobres viram a sua riqueza liquida perder 70% do valor?
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Tecnicamente está correcto, mas eu evitaria calcular variações percentuais sobre percentagens, sobretudo quando estas já são tão baixas.
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