Quando inaugurei este blogue, há pouco mais de dois anos, escrevi uma série de posts acerca de competitividade (1, 2, 3 e 4). A ideia principal era que grande parte do debate em torno da questão estava enviesado por uma compreensão deficiente dos Custos Unitários do Trabalho. A maior parte dos comentadores via os CUT a subir e tinha a reacção típica: lá estão os salários a subir acima da produtividade. Um cronista do Expresso chegou a afirmar, sem se dar conta do absurdo, que em Portugal os salários tinham crescido 12 vezes acima da produtividade.
Claro que nem os salários subiram acima da produtividade nem os CUT podiam dizer muito acerca disso. Pela simples razão de que este indicador compara duas realidades diferentes: a produtividade real com a remuneração nominal. Felizmente, alguém na Comissão Europeia se deu ao trabalho de comparar o que pode ser comparado antes de falar de produtividade e salários. O resultado vem no último relatório do Procedimento por Desequilíbrios Macroeconómicos.
A economia sofreu um importante ajustamento dos salários reais nos últimos anos. Os salários reais já estavam a crescer abaixo da taxa de crescimento da produtividade antes da crise económica (gráfico 2.3.4). Esta tendência tornou-se mais pronunciada após 2010, devido à moderação do crescimento dos salários nominais e a um crescimento sustentado da produtividade do trabalho.