Ainda a propósito dos saldos primários exigidos para que se consiga reduzir a dívida pública, vale a pena relembrar outra exigência europeia que, até há bem pouco tempo, também nunca tinha sido cumprida de forma recorrente em democracia.
Invocar a inflação não é completamente despropositado. Uma inflação baixa, tal como um saldo primário equilibrado, tem vantagens óbvias do ponto de vista macroeconómico. Mas os custos de transição são consideráveis, o que tende a gerar incentivos perversos aos decisores políticos. Mesmo que os ganhos de longo prazo superem largamente os custos de curto prazo associados à desinflação, basta que a avaliação das escolhas seja feita num horizonte relativamente curto para que os policymakers se sintam tentados a perpetuar o status quo. O resultado é uma inflação cronicamente elevada.
Quem olhasse para a Europa do Sul na década de 90 e avaliasse a possibilidade de se atingir uma inflação na casa dos 2% com base na experiência passada não teria razões para optimismo: em quatro países e 35 anos, só havia meia dúzia de casos em que essa condição se tivesse verificado. Mas, como era óbvio, a razão pela qual isso nunca se tinha verificado tinha muito mais a ver com constrangimentos políticos do que com limitações económicas. Assim que os benefícios de curto prazo de redução da inflação se tornaram mais palpáveis, a evolução dos preços rapidamente convergiu para valores “nunca antes vistos”.