Klaus Regling, director-executivo do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), no Expresso deste fim-de-semana:
“(…) Nós financiamos um terço do programa português com uma maturidade média de 22 anos a taxas de juro bastante baixas, cerca de 1,5% actualmente (…)”
Uma taxa de juro de 1,5% é muito mais baixa do que os valores que habitualmente aparecem referidos na comunicação social. É também consideravelmente inferior à referência que apresentei no post Quanto pagamos de juros à Troika (3,4%). O que aconteceu entretanto?
Não, não foi o mecanismo de formação da taxa de juro que foi alterado. O método continua a ser rigorosamente igual ao que vigorava há cerca de um ano: o MEE emite dívida no mercado e ‘repassa’ esta dívida a Portugal, cobrando apenas uma taxa adicional referente a custos administrativos.
Provavelmente, o que está aqui em causa são diferentes conceitos de taxa de juro. Uma parte dos empréstimos europeus é concedida a taxa variável: um spread fixo associado a um determinado indexante. Os 3,4% (ou 3,2%, actualmente) representam uma previsão para a taxa de juro que deverá vigorar ao longo de todo o período do empréstimo.
Assim, esta taxa ‘esconde’, na verdade, várias taxas diferentes. Taxas razoavelmente baixas quando o indexante (Euribor, por exemplo) está em baixa e taxas mais altas quando o indexante está em alta. Como as taxas de juro de referência dos bancos centrais estão neste momento ‘coladas’ a 0%, a taxa efectivamente paga é também muito baixa. Só quando a este valor se junta a uma média ponderada das taxas futuras é que se chega ao valor de 3,2%.
É provável que Klaus Regling se esteja a referir a esta taxa efectiva (“cerca de 1,5%, actualmente”). Os 1,5% são o custo real para os cofres públicos da parte europeia do empréstimo da Troika. Pelo menos, enquanto os indexantes continuarem em mínimos históricos.
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